A Conversa Com ... Monday

A Catarina é uma pessoa que tive o prazer de conhecer através da faculdade. Além de extremamente interessante, é um doce. Mas isso podem vocês ler por vocês próprios.

A Catarina tem um projeto musical – Monday – sobre o qual eu quis saber mais e que agora é uma pequenina parte da minha vida e dos meus excertos. O seu novo EP sairá em 2020, mas até lá podemos contar com “Little Fish”, o primeiro single deste EP que é para ouvir e viciar, sem dúvida! (sim, eu já ouvi eheh).

É alguém que vale a pena conhecer.

(foto da artista cedida pela mesma)

O teu nome artístico é Monday. Porquê?

Eu tive uma fase que durou cerca de 7 meses em que estive à procura de um nome e pensei em usar o meu nome: Catarina Falcão ou Cat Falcão. Só que parece que é “Két” e não Cat, que era o que eu preferia. Isto porque testei uma vez, toquei uma vez ao vivo e na altura era Cat Falcão. E disseram-no de uma forma tão errada para mim que foi tipo: “Nop! Não vai dar, estamos em Portugal ninguém vai saber dizer o meu nome como eu o quero, portanto não vale a pena”. E Monday surgiu depois de várias tentativas. Eu não estava cem por cento convencida, mas na altura estava a trabalhar com a Manuela Peixoto que é designer gráfica, que foi quem tratou do artwork todo do meu disco anterior; e eu mandei-lhe a sugestão e ela disse-me: “Adoro, é um nome muito feminino, apesar de não ser imediato.” No fundo, achei alguma piada ao nome Monday também pela simbologia que tem. É o início da semana, o início de um novo ciclo e faz sempre aquele go back; recomeça tudo sempre outra vez. Hoje em dia, já não sou tão fã do nome…

Porque também não és fã de segundas feiras?
Por acaso continuo a gostar, mais do que terças por exemplo. Terças toda a gente odeia (risos). Mas porque é um nome super difícil de se encontrar na net e em termos estratégicos não foi a melhor aposta que eu fiz. Mas tudo bem.

Achas que é tarde para mudar?
Acho que é, sim. Se eu alguma vez me fartar deste projeto em específico tenho sempre aquela liberdade de fazer alguma coisa com outro nome e que não é o meu nome. Portanto há essa vantagem em não ir para o meu nome. Além disso, acho que não funciona e que não é um nome artístico muito engraçado. E tenho sempre essa vantagem de me poder renovar, salvo seja, se for preciso, dando um nome diferente – arranjando outro pseudónimo para aquilo que eu estou a fazer.

Porque tentas que o teu nome artístico esteja de algum modo ligado ao estilo de música que fazes?
Estilo de música é uma componente do que eu estou a fazer, sim. Mas mais àquilo que eu estou a sentir na altura. Se calhar quando pensei em Monday estava um bocadinho nessa de “eu preciso de recomeçar, eu preciso de voltar a sentir alguma coisa do início”. E foi, foi a primeira vez que me aventurei a solo. Porque eu tive uma banda com a minha irmã Margarida, Golden Slumbers e nós já tocávamos há muito tempo e foi sempre uma coisa de grupo. Estava muito habituada e muito dependente de outra pessoa. E Monday foi aquela primeira vez que pensei “I have the balls to this”. Portanto, é o meu início de semana.

Qual a mensagem que tentas transmitir na tua música?
Depende, depende. Isso depende muito de música para música. E de fase para fase. Vou falar daquilo que já tenho lançado – o meu disco anterior. Hoje em dia, já não relaciono muito com esse disco. Acho que nessa altura eu estava um bocado zangada com tudo e com todos. E, no fundo, aquilo também é bastante autobiográfico. Na altura, era muito sobre histórias das minhas relações com pessoas: com a minha mãe; com o meu pai; com um rapaz, uma relação que eu tinha com um rapaz. Portanto aí, se calhar, aquilo que eu queria dizer até era algo mais egoísta, eu precisava de desabafar. Eu não sou uma pessoa que tenha muito jeito para palavras no dia-a-dia. E arranjei ali uma forma de canalizar isso. Mais ou menos poética, mas é a minha forma de dizer “ok, eu sinto isto, toma lá” e é bastante terapêutico nesse aspeto. Fica na canção e muitas vezes até me resolvo dessa maneira.

E voltas a ouvir a canção? Ou não queres mais?
Isto vem por processos. Eu escrevo-as em casa. Gravo-a em casa versão demo. E ouço-as mil vezes. Porque quando tu escreves alguma coisa que gostas, ou quando tu fazes alguma coisa que gostas, tu ficas ali meio obcecada e entras numa espiral de “isto é a melhor coisa do mundo”. Então, quando acabo de escrever e de compor as músicas, ouço-as imensas vezes e fico mesmo orgulhosa. Depois entre tu escreveres a música e lançares a música demora tanto tempo, que perde um bocadinho essa magia inicial. Mas ganha outra. Porque de repente ganha formas diferentes, porque tens outras pessoas envolvidas, a tocarem outros instrumentos, a tocarem e a produzir. Até no próprio som, nas misturas, etc. E isso cria um produto diferente daquilo que tinhas inicialmente. Vem com algo que era teu e que já estava feito e que se eleva. E perdi-me (risos) qual era a pergunta?

Se guardavas as músicas só numa caixinha ou se depois voltavas a elas? Por ser essa forma de te exprimires, se depois querias voltar a esse sentimento, principalmente porque era revoltado, ou se guardavas e hoje em dia já não queres voltar lá e não queres voltar a sentir aquilo?
Eu não oiço mais as músicas que fiz. As que estou agora para lançar, oiço. Oiço até porque ainda estamos em fase de misturas e preciso de as ouvir e de opinar. Mas as coisas antigas já não oiço, não consigo ouvir mesmo. Mas tenho que as tocar ao vivo. Há algumas que não me dizem nada e eu até tento não as tocar, porque acho que não faz sentido estarmos a tocar coisas que depois não transmitem nada. Mas ainda há muitas que sim, que ainda me dizem algo. De uma maneira muito diferente do que me diziam na altura. Tenho uma música que é a Yo-Yo que foi o primeiro single que eu lancei do disco anterior, que era sobre a frustração de não saber estar com alguém e saber (ou achar) que aquela pessoa era a pessoa certa, mas eu não consigo e estou sempre naquele “vai não vai”. Hoje em dia se calhar ainda me revejo um bocadinho nisso, mas quando toco levo a música para um lado mais cómico e não frustrado. Há umas coisas que nos dizem sempre mais porque também são menos de uma fase e mais de quem tu és. E essas ficam-te mais.

Tentas, portanto, que as tuas músicas contem a tua história. Falas do teu álbum antigo como uma fase mais revoltada, o que se pode esperar deste que vem aí?
Mais alegre, acho eu. As músicas estão escritas de uma forma diferente, o próprio som de origem é mais relaxado, mais chill, “a little bit more happy”. E trabalhei com o Miguel Nicolau, produtor, e ele trouxe um bocadinho mais de leveza e upbeatness para a cena, com a parte dos arranjos e tudo, e isso é fixe. Em termos de letra acho que estou um bocadinho mais resolvida, sim. E, se calhar, não tão dramática. Embora, eu seja um bocadinho dramática por natureza. É o que é. Mas mais em paz. Nem tanto com as situações em si, mas comigo própria. Mas este EP, que são seis músicas, é todo um conjunto. Não estou a ligar tanto às letras, embora elas existam e sejam importantes porque estão a contar alguma coisa, mas estou a ligar a tudo: é o bolo todo. Não estou a separar as fatias, nem os ingredientes. E acho que o bolo todo está muito mais resolvido, muito mais feliz.

E achas que essa mudança tem a ver com o próprio crescimento em si ou passaste por algum processo que te ajudou a chegar a essa maturidade?
Os dois. Acho que é inevitável que tu cresças enquanto pessoa. E teres 23 anos ou teres 25, por pequena que seja a diferença, é diferente. Os processos que tens na tua vida são diferentes. Sair de casa, começar a ser independente, tudo isso me trouxe preocupações e alegrias. E isso molda-te enquanto pessoa, enquanto storyteller. Mas também houve situações específicas. Eu tive alguns confrontos com pessoas. Apercebi que era muito dependente de outras pessoas para fazer algo. E tive uma rutura de ligações profissionais que resultou em eu forçar-me a ser um bocadinho mais autodidata até em termos de produção e a tentar perceber melhor o que eu queria fazer musicalmente. Porque eu estava numa fase de “o que é que eu estou a fazer?”, parecia que estava a seguir uma lista de regras e não tinha arranjado a minha identidade. E não estou a dizer que esteja agora definida e fechada e sem espaço para crescer, mas está a aproximar-se mais daquilo que eu quero ser quando for grande (risos).

Como começou o teu percurso na música?
Eu comecei na música muito cedo. Andei num coro com as minhas irmãs. Depois tive aulas de piano, não sei nada de piano. Tive aulas de guitarra aos 12 e depois comecei a ter aulas de canto, assim esporadicamente. Nunca levei demasiado a sério. Até porque eu achava que como não tinha uma voz muita aguda que não sabia cantar. Uma estupidez! Foi desconstruindo (risos). Quando tinha 12/13 anos escrevia umas músicas a brincar com a minha irmã Margarida que é com quem formei a minha banda. Aos 15 anos escrevi a minha primeira música, com o meu namorado na altura (risos) que se chama Mom e foi super divertido. Fiquei muito entusiasmada. Na altura, gravei aquilo e fiz uma parte onde gravei três harmonias e pensei “ok, já sei como a Feist faz”. Eu adorava, e adoro a Feist. E foi a partir daí. Sempre gostei de música, sempre cantei, sempre fiz covers de músicas cha la la. E depois chegou uma altura em que a Margarida começou a insistir um bocadinho mais para nós trabalharmos juntas e para começarmos a compor e formamos Golden Slumbers. E correu bem. As pessoas gostavam de duas irmãs a fazer harmonias, era bonito. Então ficou. E depois aos 23, há dois anos, comecei com Monday.

Quanto tempo durou a tua banda com a tua irmã?
Ainda dura. Estamos em pausa para escrever o disco, que vamos lançar daqui a um ano.

Qual a tua memória mais antiga onde a música está presente?
Nós íamos cantar ao Natal dos Hospitais, com o Coro de Santo Amaro. E eu lembro-me, não da cantoria em si, mas da minha mãe me dar sempre Kinder’s nos intervalos (risos). Nós nunca comíamos Kinder, a minha mãe nunca comprava, mas sempre que tínhamos essas atuações, ela metia ali dois Kinder’s para cada uma. 

Tens o apoio da tua família?
Sim! Há pessoas que levam mais a sério, outras menos. A minha mãe é pintora, portanto ela também sabe os struggles de ser criativa ou artista. Percebe os desafios e a instabilidade que existem em qualquer percurso criativo, tanto em termos de criação, como financeiramente. Ela apoia-me, mas, como com tudo, preocupa-se. Cheguei a uma fase da minha vida em que estou financeiramente confortável, mas é uma carreira que demora imenso tempo a ser viável. Apesar de tudo, as coisas correm-me bem, mas é normal que para os meus pais haja aquela preocupação de isto não ser consistente, não ser algo seguro. Tem meses fixes, outros nem tanto. Em parte, é também por isso que estou aqui a estudar, para ter sempre um plano B. E para usar sempre em meu favor, na música. Mas sim, eles apoiam-me.

Ao início dizias que achavas que não cantavas muito bem porque não tens uma voz muito aguda. Houve muitos momentos em que duvidaste da tua voz?
A primeira vez que eu me apercebi que podia cantar da maneira como podia foi a ouvir Laura Marling, uma artista folk contemporânea. O que eu comecei por ouvir dela era num registo super grave, quase spoken words e foi muito estranho porque me apercebi de que não tenho de estar a gritar ou ter um registo mais agudo para as coisas soarem bem. Também foi quando descobri que havia todo um mundo de folk contemporâneo com o qual me relacionei muito. Acho que foi nessa altura, nos meus 15/16 anos que ganhei mais confiança e que percebi que não tinha de soar exatamente igual a todas as pessoas que eu conheço. E acho que isso até é fixe. Hoje em dia, gosto muito mais de ouvir mulheres com um registo mais grave do que vozes muito agudas. Tenho uma empatia especial por vozes mais out of the box. A Dua Lipa, por exemplo, não tem uma voz super aguda e eu acho bué piada à voz dela.

Hoje em dia já não duvidas tanto da tua voz?
Não, não, não. Eu gosto muito de me ouvir a cantar (risos). Eu sou muito nervosa. Hoje em dia, não tanto. Mas quando eu comecei, eu tinha muita dificuldade em pegar na guitarra e fazer os acordes sem me falhar a mão, mas cantar nunca foi um problema para mim nesse aspeto. Eu até confio em mim a cantar. Até é quase o meu encosto. Se estou nervosa, começo a cantar e penso “ok, se isto está a sair bem, vai sair bem o resto também”. Não é suposto ser arrogante (risos). Cada pessoa gosta das vozes que gosta, não é por aí. Mas eu gosto da minha voz. É uma coisa boa de se poder dizer!

Quais os teus objetivos para o futuro? Gostarias de fazer música só em Portugal ou fazer música no estrangeiro?
Gostava de ir para fora, claro. Acho que há um mercado enorme por explorar que cá nunca vou conseguir. Há oportunidades diferentes. O facto de eu fazer música em inglês às vezes é um bocadinho uma barreira cá. Até passo em bastantes rádios cá, mas é coisas mais como a Vodafone, Antena 3, Radares, etc. que são mais para música alternativa, independente ou indie. As rádios maiores estão mais sujeitas à língua portuguesa quando estas são de autores portugueses. Eu sei que isso é uma barreira, mas eu não sei escrever em português. A forma como escrevo em inglês é minha, se escrevesse em português ainda não era meu, estaria a adaptar-me àquilo que eu ouço escrito em português e não ia arranjar uma linguagem que fosse minha. Para estar a fazer coisas que não me soam bem: não, obrigada.

Se fores para fora, irás confrontar-te com a fama. É uma coisa que te assusta e que gostavas de contornar ou achas que enquanto cantora terás de aprender a lidar com isso?
Fama? Acho que isso não vai existir (risos). Eu acho que há milhões de projetos, e alguns deles bem-sucedidos, que nunca chegam a esse tipo de fama. Chegam a um ponto de se autossustentar e um extra, é isso que eu quero. Eu não quero ser a Ariana Grande, até porque nem sequer tenho nada para dar como ela tem. São muitas vezes produtos montados desde muito cedo, pensados com uma equipa gigante. Eu não tenho isso e acho que não vai acontecer. Nem acho que em termos de personalidade ou da minha música, isso faça algum tipo de sentido. Eu quero ser cem por cento autossustentável. Eu gostava, claro, de ir tocar a salas grandes e bonitas. É esse o sonho. E, se calhar, é para isso que eu trabalho inconscientemente, mas, para já o objetivo é ser cem por cento autossustentável, depois, logo se vê. 

Lançaste o “Little Fish” no dia 11. Qual é a história dessa música?
Eu tinha um peixe, o Osvaldo. Ele morreu passadas três semanas. Eu tinha ido a uma festa qualquer, cheguei a casa por volta da meia noite e vi o peixinho morto e isso abalou-me completamente. Fiquei mesmo triste no momento. Eu não sou pessoa de chorar, mas comecei a chorar. Depois comecei a perceber porque é que tinha tido tanto impacto em mim; pelo facto de eu ter uma necessidade gigante de controlar tudo e de ter controlo na minha vida e em tudo o que acontece. Ali, senti-me completamente defectless. Tinha um animal de estimação, que era minha responsabilidade, e ele morreu. Isto soa super dramático (risos). E fiquei triste. Não consigo cuidar de nada, nem das minhas coisas; não tenho controlo em nada (risos). A vida é incontrolável. Depois comecei a escrever uma música sobre isso, mas de um ponto de vista mais leve e menos zangado, menos dramático. Mas a mensagem é um pouco a de que a corrente vai e eu também tenho de ir. Eu não controlo nada, mas não posso só bater o pé e pronto. Tenho claro de assumir responsabilidade por aquilo que eu sou e por aquilo que faço, mas aceitar que a vida é, de uma forma muito básica e foleira, uma corrente. Nós estamos aqui só a nadar.

(capa do single cedida pela própria)

Falávamos há pouco que este álbum não tem muito que ver com o anterior. A versatilidade do mundo da música é algo que te entusiasma sobre o meio?
Claro, claro! Acho que uma das coisas mais cruciais para mim, especialmente com Monday, foi sentir que eu não estou só sujeita a fazer algo que encaixe neste estilo de música. Nem falo de letras porque isso vem de mim e, por isso, é sempre um pouco da minha biografia ou de algo que aconteceu, tem sempre algo meu. Mas em termos de estilos, sim. Ter essa liberdade de poder fazer o que eu quiser, é a melhor coisa do mundo! E entre aquilo que eu tenho com o meu disco One e aquilo que eu vou fazer agora para este EP são sonoridades completamente diferentes. Embora, no final do dia, sou eu e isso confere-lhes uma linha de continuidade.

Além disso, o que mais te liga à música?
Há uma necessidade intrínseca em mim de fazer música. Não planeio propriamente fazer isto ou aquilo, compor neste dia ou naquele; é mesmo uma extensão de mim própria. Não digo que o faça quando me apetece porque temos de ser um pouco mais metódicos e disciplinados do que fazer quando vier a inspiração. Mas faço isto porque estou ligada à música, quer seja de uma maneira mais profissional ou menos profissional. Gosto mesmo de escrever, de tocar, de estar irritada e saber que posso escrever o que estou a sentir num papel e ficar ali. Até que isso deixe de acontecer, vou sempre gostar de fazer música. Se calhar, um dia vou acordar e já não me diz nada e vou insistir e passam-se 5 anos e continuo-me a aborrecer e aí logo se vê.

Tens alguma referência na música?
Tenho várias. Mas acho que se tornam bastante obsoletas por que dependem muito de fase para fase. Para esta nova etapa andei a ouvir muito mais R&B, muito mais miúdas a cantar; e isto foi totalmente involuntário, não foi uma discriminação de género. Dei por mim a ouvir 90% de mulheres a cantar. Comecei a ouvi muito Alice Phoebe Lou, Joy Crookes ou Sigrid. Se calhar não têm muito a ver com o que estou a fazer, mas tem a ver com o feeling da música; há músicas que te deixam mais feliz e só pensas “quão fixe deve ser tocar isto ao vivo”. E se calhar é mais isto que eu procuro quando estou a fazer pesquisa propriamente dita.

Não ouves muito as músicas que passam nas grandes rádios porque não te identificas, por não ser isso que queres fazer, ou não gostas tanto?
Depende. Eu sou mega fã da Ariana Grande. E ela é híper comercial. É tudo pensado, são dez songwriters para escrever uma música, é totalmente o oposto do meu processo. Mas admiro muito e gosto muito. No final do dia, a música tem de me dizer alguma coisa. Não importa se é mais comercial ou menos comercial. Por acaso quando vou procurar, sou um bocadinho mais tendenciosa e sim, vou procurar coisas mais independentes, mais alternativas porque não me revejo totalmente na fórmula de músicas comerciais. Mas não tenho nada contra, até gosto muito; não de tudo, evidente, mas há várias coisas que gosto.

A tua preferência musical faz-te ter algum festival de eleição?
Sim. Gosto muito do Vodafone Paredes de Coura, voltei a ir este ano. Gosto muito do Bons Sons, um festival em Tomar, Cem Soldos. Já lá toquei, tanto com Golden Slumbers como com Monday. Porque é um festival pequenino, super independente, só com bandas portuguesas. Algumas são mais conhecidas, outras menos. Mas há um grande sentido comunitário que é muito bonito e importante de se valorizar. E ergue a música portuguesa, não são só nomes estrangeiros. Eu gostava muito do NOS Alive, hoje em dia já não gosto de me sentir uma sardinha em lata. Gosto do Super Bock Super Rock, agora que voltou ao Meco ainda gosto mais. Acho que um festival ganha muito pela envolvência. E do Nos Primavera Sound, também gosto muito.

Portugal é rico em festivais. É fácil fazer música em Portugal?
Fazer é, teres dinheiro com isso é que não. Fazer música qualquer pessoa pode, desde que tenhas vontade e iniciativa e a faças. Que isso seja sustentável, depende. Eu acho que se começares logo com uma abordagem de “vou fazer isto para vender” e venderes para outras pessoas cantarem, se calhar até funciona. Mas acho que é difícil de qualquer forma porque não tens um caminho delineado. Nada é estável, nem uma linha reta. Às vezes sobes e depois desces três vezes mais do que subiste. Mas eu acho que em Portugal, as coisas estão melhores. Pelo menos eu sinto isso. Acho que há mais valorização de música portuguesa, feita em Portugal. Há mais oportunidades, há mais rádios a apostar em música independente. É difícil na mesma. Mas é difícil em qualquer lado. Em Portugal, o mercado é mais pequeno, por isso talvez seja mais difícil. Mas, por outro lado, quando estabilizas, também consegues.

És fã de música portuguesa?
Sim, sim. Há bastantes coisas que gosto. Oiço muito Ornatos Violeta, gosto muito de Samuel Úria, nós até já colaboramos com ele. Bruno Pernadas, gosto muito. Luís Severo, Capitão Fausto. Hoje em dia há umas quantas bandas que eu acho que são muito boas. E acho que há cada vez mais bandas a começar. A minha irmã Margarida também tem a banda dela que se chama Vaarwell de que também gosto muito.

Achas que há mais pessoas a meter a tua música na caixinha do gosto ou do não gosto?
Acho que na do gosto. Não é uma música muito difícil de se ouvir. Não digo que todos os que dizem que gostam oiçam muitas vezes ou sintam borboletas no estômago. Vou dizer no gosto, espero não estar errada (risos). E espero que daqui para a frente seja ainda mais no gosto e não no não gosto.

Quantos concertos já deste?
Com Monday, entre 30 a 40 no espaço de 2 anos. Isto incluindo coisas pequenas e mal pagas, ou não pagas.

Costumam ficar para falar contigo no final dos concertos?
É normal virem falar comigo. Até porque eu muitas vezes digo que tenho discos à venda. Fotografias, geralmente é com os putos. Os pais foram ver e eles gostaram e vão tirar uma fotografia. É sempre giro.

Alguma vez já foste reconhecida na rua?
Já aconteceu, em duas ocasiões, eu estar com a minha irmã Margarida e chegarem perto dela e dizerem “Ah, tu és das Golden Slumbers” e a fazerem conversa. E eu, ao lado, e eles sem se aperceberem que eu fazia parte também (risos). Isto é um sinal qualquer de que a minha cara passa ao lado. Portanto, não. Ou então ninguém veio falar comigo.

Tens mais cuidado agora com o que partilhas nas redes sociais?
Não tinha cuidado nenhum antes, publicava tudo. Mas um amigo meu, que me está a ajudar nesta fase, a tirar fotografias e a planear um bocadinho a comunicação; esteve comigo a trabalhar nisso apagamos cerca de 300 posts que eu tinha (risos). Acho que temos de limar um pouquinho a imagem e tenho de ter algum cuidado; não pôr fotografias das minhas irmãs, por exemplo. Porque depois parece uma coisa demasiado casual, que pode funcionar para certas pessoas, mas eu também não quero dar isso. Quero manter uma imagem mais profissional, não quero ser só a amiga que está a tocar, quero que me levem a sério. Não quero deixar de ser eu, porque isso também é uma seca, mas ter algum cuidado com aquilo que eu publico. Mas mais do que em redes sociais, tenho muito mais feedback nos concertos ao vivo. Há mais pessoas a falar comigo, a dizer-me que gostaram mesmo e que estão interessadas no que se está a passar. Portanto, tocar mais é a melhor forma de chegar a mais pessoas.

O que mais gostas na música são os concertos?
Sim, hoje em dia gosto mais de concertos. Não é só. Adoro tudo o resto. Adoro estar a gravar, adoro compor, a trabalhar na parte da produção. São tudo etapas muito diferentes, mas são todas muito especiais e todas importantes. Depois de teres o teu filhote cá fora, é bom mostrá-lo ao mundo e sentires as reações das pessoas.

Qual foi o concerto mais marcante?
O primeiro de todos, em 2017, foi no Teatro do Bairro. Ainda não tínhamos lançado nada, era tudo mega fresco. Acabadinho de estar feito. Esse concerto foi super especial, super divertido porque era a primeira vez que estava a tocar. E acho que quando é a primeira vez, tu lembras-te sempre. Há ali todo um rush of emotions e tem um lugar especial na tua memória. Uma vez também toquei numa tascazinha, num festival itinerante que havia no Barreiro. Toquei meia hora, depois passava para outra pessoa. Mas as pessoas estavam a um metro de mim e estava tudo em silêncio e com os olhos em mim, o que é um bocadinho intimidante, mas sentes ali uma special connetion.

Onde sonhas atuar?
Em Portugal, no Coliseu de Lisboa. Com uma banda gigante, e várias vozes. Esse é o sonho. É uma sala super bonita. Além disso, dizeres que vais tocar ao Coliseu em nome próprio tem algum poder. Até podiam estar só vinte pessoas. Claro que ia ficar um bocadinho triste, mas um programador pensar “ela vale a pena” e levar-me ao Coliseu… eu acho que quando vais para um Coliseu é porque, à partida, tens um nome justificável.

Vais a muitos espetáculos de música?
Sim. No verão é mais a festivais. Tenho tentado fazer esse exercício de tentar meter dinheiro de parte e ir a concertos. Às vezes vou ver concertos e fico muito desapontada. Mas mesmo esses de que não gosto são super educativos para coisas que eu não quero fazer. Quando são concertos bons, não estou a desmaterializar a situação, fico só a aproveitar.

Como te imaginas daqui a 5 anos?
Com 30 (risos). No meu mundo ideal, com um palacete em Sintra e com 4 cães (risos). No mundo real, não sei. A fazer música, a tocar muito mais, com mais discos, pelo menos mais dois. E idealmente com mais abertura para fora, já ter dado uns passos fora de Portugal.

E se a música não der certo?
Vai dar. Tem de dar! Se não der mesmo, vou para comunicação de qualquer coisa. Mas vai dar. Nem que seja a escrever jingles para a marca x e y. Tenho de estar dentro da música e continuar a escrever. Porque eu vou sempre escrever, quer me dê dinheiro ou não, é quem eu sou.

Sentes-te realizada?
Sim, muito! A sério. Mesmo que seja uma mulher de 30 anos pobre, serei feliz.

E és feliz?
Sim, claro.

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