A Conversa Com ... Raquel

Uma miúda que em 17 ano viveu mais do que muitos, tem muito para contar embora nem sempre saiba como o fazer e é esse um dos seus maiores tormentos. Demonstra uma determinação e força de vontade e mostra que o seu segredo é, sobretudo, gostar do que faz.

É alguém que vale a pena conhecer.




Foste uma criança feliz?
Como tudo na vida, tive momentos bons e momentos maus, mas acima de tudo fui.

O que é que recordas com mais carinho?
Momentos que passei com os meus amigos, com os meus pais, tudo o que me fez sorrir ... Recordo o dia em que aprendi a andar de bicicleta. Estava com o meu irmão e o meu melhor amigo no campo da bola. Era um retângulo e eu caía sempre nas curvas. Passamos o dia a rir. 

No 8º ano pesavas 70 Kg, o que achas que te levou a isso?
Falta de controlo. Não tinha controlo em mim mesma. 

E qual é a diferença entre a menina de 8º ano e a menina que és agora?
Agora sei controlar-me, sei ver quando comi demais ... gosto de mim. 

Achas que ela teria orgulho na pessoa em que te tornaste?
De certa forma sim. 

Desde aí tens cuidado com a tua alimentação. Nunca tiveste períodos de pausa para cometer loucuras?
Há sempre as alturas festivas como o Natal, os aniversários ou a passagem de ano; mas nunca foram alturas de abusar completamente, nunca me levei muito a exageros nem nada disso. Tentei ter sempre uma alimentação correta. 

Alguma vez te apeteceu desistir da dieta?
Não. Foi uma mudança radical, mas sinto-me bem como estou atualmente e gosto do que faço, do que como. Não sou obrigada a cumprir este "regime", faço-o por gosto, por motivação pessoal. Já não se deve ao medo de ficar mais pesada, mais gorda, ou não me conseguir ver ao espelho; mas sim por gostar de experimentar novas comidas, novos exercícios, novas rotinas de bem-estar ...

Qual é a maior dificuldade do estilo de vida que fazes?
Talvez o "ser aceite" na sociedade. Há muita gente que pensa que faço isto porque tenho a mania que por estar no séc. XXI tenho de aderir a esta moda, pensam que é só um devaneio, uma "coisa de gaiata" e que irá passar. Pensam que me acho mais que alguém por comer ou não comer determinada refeição; pensam que por não beber não me vou divertir com os meus amigos. Talvez seja isso porque, de resto, faço tudo o que mais gosto. 

Foste vista dessa forma pelas pessoas que te são mais próximas ou só pelos que te veem de fora?
Alguns próximos. Sempre julgaram que eu não ia conseguir, mas há quase 4 anos que "ando nisto". 

O que faziam eles que demonstrava que não aceitavam essa tua opção?
Tentavam incutir-me coisas que eu não queria, como por exemplo as carnes. Tentavam que eu comesse alguns tipos de carne que havia abandonado. Perguntavam-me porque tinha deixado de comer esse tipo de carne, sempre fui um bocado rebaixada por causa disso. 

Lidavas bem com isso?
No início não, mas agora já não me incomoda. 

Gostas da imagem quando te olhas ao espelho?
Sim.

Já deixaste de fazer alguma coisa que querias mesmo para poderes manter o teu estilo de vida?
Acho que não. Sempre que há aniversários ou outro tipo de festas, as pessoas que me convidam são pessoas que gostam de mim e que conhecem os meus hábitos e rotinas, acima de tudo não me julgam e têm o cuidado de me perguntar se está tudo bem com o comer ou se é preciso trocar alguma coisa.

Falas em festas e aniversários. São sempre os momentos mais complicados para se fazer dieta...
Exatamente. É uma altura em que pode sempre haver um deslize naquilo que não é bem uma dieta, mas mais uma rotina, uma vez que é mais para manter a forma física. Há dietas e dietas. Nós temos dietas para emagrecer, para manter ou para engordar; a minha dieta é apenas para manter, para ter uma vida saudável. 

Porque é que isso é importante para ti?
Porque sinto que a vida é tudo e só a conseguimos aproveitar tendo saúde. 

Como resumes a causa dos teus momentos de crise?
Acho que é maioritariamente o stress. 

Tens falta de apoio?
Não tenho falta de apoio, mas falta do sentimento de querer ser ajudada. Penso que consigo resolver tudo sozinha, mas não consigo ...

O que sentes nesses momentos?
Sinto que não me sei expor a quem mais gosto, não me sei explicar de forma a que me entendam; ou talvez entendam mas eu não estou disposta a ser ajudada. Não sei, não sei explicar.

Tens uma paixão por animais. O que vês neles que não encontras nas pessoas?
Fidelidade. Sinto que eles não me julgam, nem magoam. Sabem dar carinho quando mais preciso, sabem brincar ... 

És dada ao amor?
Sou. 

Como imaginas o amor da tua vida?
Parecido comigo. Alguém que alinhe nas minhas jogadas desportivas, nas minhas aventuras na cozinha, que adore animais, que goste de uma boa ida ao cinema e que me ame tal como eu sou. 

Achas que um rapaz que entre na tua vida vai ter a tendência para achar que te pode curar?
Curar é uma palavra muito forte. Não sei se a minha doença tem cura. São muitas feridas a sarar e sei que a cicatriz vai sempre ficar lá. Mas se gostar de mim, sim. Pelo que vejo, todos os que gostam de mim tentam fazer todos os possíveis e impossíveis para me ajudar. 

Em que é que os teus namorados anteriores falharam?
Talvez na falta de cumplicidade e de amor, talvez. 

Lidas bem com as mudanças na tua vida?
Sim, acho que são fundamentais.

Como tens lidado com a tua última mudança?
Muito bem! Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida! O meu dia a dia não tem nada a ver, tenho muito mais vontade para acordar, para ir ao ginásio, fazer desporto, ir à escola, estudar, para tudo ... Tem sido fantástico!

O que tens agora que não tinhas antes de te mudares?
Sossego psicológico, bem-estar próprio... Sinto-me muito mais calma, mais descontraída, mais alegre... Tenho energia para tudo.

O que mudou no teu ambiente que te permitiu essa mudança de estado de espírito?
A presença de certas pessoas. Penso que houve algumas pessoas que fizeram de tudo para me mandar a baixo. 

E conseguiram?
Em certos momentos sim. Senti-me completamente excluída.

Qual foi o momento mais marcante porque já passaste?
Foi quando o meu tio faleceu. 

Há gestos que não esqueces?
Há gestos que não esqueço, sim. Como últimas palavras de certas pessoas, algumas atitudes que têm para comigo, alguns momentos em que me dei a outras pessoas e elas não souberam retribuir.

Começaste um blog recentemente. Fala-nos dele.
Está completamente parado, ainda só escrevi a biografia. 

Porque é que o começaste?
Porque para além da grande insistência de uma grande amiga minha, senti vontade de partilhar a minha rotina. 

Se tivesses de escolher um livro preferido, qual seria?
Estou Nua, E Agora? - Francisco Salgueiro. Porque é um livro que mexe connosco, em termos de aventura e adrenalina. De um momento para o outro estamos numa viagem à volta do mundo sem nada: sem dinheiro, sem uma muda de roupa, sem o apoio ou a ajuda de ninguém e, ao fim de um ano de viagem, traz-se as melhores aventuras e as melhores recordações. E sobretudo, forma-se uma nova pessoa. 

Há alguma música que te marque mais do que qualquer outra?
Sinto que o mundo é feito de desculpas. Cometemos muitos erros porque podemos sempre dizer "Desculpa", mas isso não resolve nada. 

A música traz-te alguma memória?
Traz-me muitas memórias, principalmente más. De palavras que foram só desculpas para atitudes que não deviam ter sido feitas. 

Alguém te deve um pedido de desculpa?
Não. Eu é que devo, talvez. 

Fizeste mal a alguém?
A mim própria. 

Perdoaste-te?
Perdoei muita vez. Fiz mal, mas perdoei. 

O que achas que te distingue das restantes raparigas da tua idade?
A minha forma de viver, o meu estado de espírito, tudo em mim ... todos somos diferentes. 

Gostavas de ser mais como elas ou mais como és?
Eu gosto de como sou.

És feliz?
Sou. Hoje posso dizer que sou feliz.

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