Óbidos à chuva

A chuva soa lá fora. Encorajadas, algumas lágrimas molham a minha face. Lágrimas de alegria, de tristeza, de melancolia e de saudade. Mas, sobretudo, lágrimas de confusão. Já não sei se foi real, ou se tudo não passou de um sonho.

Hoje oiço a chuva já deitada na minha cama. Parece ter outro cair, outro som, outro cheiro. Assim como a chuva, também a vivência era diferente. Era mais fácil andar, em cima dos nossos ombros havia menos peso. Acho que nos esquecemos que teríamos de voltar.


Agora observo as fotografias que tirei. Parecem pinturas. Não sei se são reais. Não sei se são fruto de um sonho ou da magia de Óbidos.

Óbidos é uma pequena vila, mas que recebe milhares de pessoas. Em janeiro, pouco mais de umas dezenas. Com chuva, talvez menos. Mas nós fomos. E a chuva tem outro cair.

Cada esquina parecia o lugar perfeito para aquela fotografia. Mas não era. Estava a chover e tu estavas ao meu lado. Fotografei pouco. E o sentimento é infotografável. Óbidos como nós a vimos, é só nossa.

Trouxemos memórias, e promessas de voltar. Porque tudo é bonito. Porque tudo é mágico. Porque tudo parece um sonho. Um sonho onde somos reis e rainhas, onde saltamos as muralhas de um castelo. Um sonho onde temos ginja à descrição. Um sonho onde somos completamente livres.

Hoje o sol voltou a brilhar. Não recordo o sol de Óbidos. Porque fomos maravilhados pelas águas da vila, porque subimos muralhas alagadas e envergamos uma vista cujo horizonte era cinzento. Uma vila onde é fácil subir aos telhados e entrar nos quintais.




Agora, à luz do sol tudo parece mais claro. As fotografias revelam-se reais e os sorrisos também. Os dias que vivemos foram reais. Fomos realeza, fomos forasteiros e turistas. Curiosos e corajosos, que pelas ruas andavam quase sem notar que chovia. Bebemos ginja à chuva, para nos aquecer a alma. Abrigamo-nos entre livros e fruta biológica. Descobrimos uma vila com mais literatura do que se julgaria. E, sem saber como, apaixonamo-nos. As ruas estreitinhas, os becos e travessas, roubei-te um beijo aqui, outro acolá. E, sem saber como, apaixonamo-nos. A calçada irregular, as esplanadas alagadas, os restaurantes sem cerveja. Apaixonamo-nos pela vila. Redescobrimos um amor nosso.



E Óbidos como a vimos, é só nossa. 

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