Regresso à Infância

Enquanto criança, fui apaixonada pelo Winnie the Pooh. Nunca percebi porque razão não se chamava Winnie the Bear, afinal ele é um urso, certo? Mas talvez seja por isso mesmo que não se chama the Bear, porque para isso não era preciso nome, todos viam, todos vêem que ele é um urso. Pelo menos era esta a justificação que me poderia ser dada por Christopher Robin. 

Enquanto criança, Christopher Robin era um intruso nas minhas histórias preferidas. Era uma banal criança (como eu ou os meus amigos) com um nome difícil de dizer. E por tudo isso eu não gostava muito dele. 

No entanto, sei hoje que sem Christopher Robin não haveria Winnie, Tigre, Piglet, Igor, Kanga
e Roo. Agora sei porque a FOX partilhou com todos nós a história de A. A. Milne e contou-me que Christopher Robin foi um menino de verdade.

Alan Milne, Blue para os amigos, era um ex-soldado inglês. Combatera na guerra que serviria para evitar outras guerras. Escritor de profissão, viu-se abandonado pela mulher numa vivenda no meio do bosque com um bloqueio criativo. Ao ver-se sozinho com o filho, estes começam a passar mais tempo juntos e Christopher Robin, ou Billy Moon para os mais próximos, partilha com o pai as aventuras e os segredos dos seus amigos: os peluches que a mãe lhe oferecia.
De todos, o seu preferido era Winnie, um urso que a mãe insistentemente pedia que se chamasse Edward, mas Billy dera-lhe outro nome em homenagem ao urso grande e imponente que conhecera no zoo.

Billy pede ao pai que escreva um livro para ele e o pai começa a reconhecer nos peluches e brincadeiras do filho uma nova fonte de inspiração. Assim surgem os livros de aventuras de Winnie the Pooh e Christopher Robin que, em clima de guerra, rapidamente devolvem a felicidade às crianças e se tornam um sucesso. É assim que Christopher Robin se torna um fenómeno e uma das crianças mais adoradas daquele tempo, sendo essa razão para que o autor deixe de publicar histórias. Vendo a infância do filho perdida para constantes entrevistas, Alan promete-lhe deixar de publicar, tornando o Winnie the Pooh "só deles" novamente.

"Goodbye Christopher Robin" revela-nos tudo o que está por detrás da magia dos meus livros de infância preferidos, retratando a sociedade inglesa do séc. XX simultaneamente. Numa altura em que o clima era de guerra, em que a educação das crianças era entregue às amas, deixando a relação entre pais e filhos mais difícil de se conseguir. Prova disso foi a relação entre Blue e Billy Moon que apenas se conseguiu quando não havia mais ninguém que alimentasse o menino.
Também o medo e infelicidade da esposa de um ex-soldado é evidenciada através de Daphne. Pouco falei sobre ela, mãe de Christopher Robin. Mas não se deixem enganar, esta é uma personagem que assume um dos mais importantes papéis, uma vez que contribui para a infância difícil de Billy, mostrando ambição em querer cada vez mais livros de Winnie, pelo que representa para si, e para o marido. É uma mulher imponente, destacada na sociedade e uma mãe agridoce.

O filme deixa-nos a querer mais, a precisar de reviver mais da magia que se perde um pouco na infelicidade daquele que é o menino mais doce de toda a história. Um filme que deixou o meu coração um pouco mais pequenino, que me fez sentir que a minha felicidade ao ler todas aquelas histórias foi conseguida porque um menino (como eu ou os meus amigos) abdicou da sua e partilhou o seu ursinho e as suas aventuras pelo bosque connosco.

Hoje, Christopher Robin já não é para mim um intruso nos meus livros preferidos. Tornou-se, em vez disso, o herói daquelas histórias na vida real.

Obrigada por partilhares os teus peluches connosco, Christopher Robin.

Fotografia: Winnie e os amigos: Kanga, Piglet, Winnie, Igor e Tigre (da esquerda para a direita)
Fotografia obtida no site: www.thestar.com

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